G1
Um urologista e um anestesista são suspeitos de cobrar de pacientes por cirurgias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital José Venâncio, em Colina (SP). Segundo a Polícia Civil, dez pessoas que passaram por procedimentos na instituição denunciaram a ação. Em um dos casos, uma mulher de 65 anos relata que teve um rim operado sem estar completamente anestesiada, porque um dos médicos não havia recebido o valor cobrado.
O caso está sob segredo de Justiça. Se condenados, a pena para cada um dos médicos pode chegar a até 12 anos de prisão.
Procurado, o provedor do hospital, que também é investigado, não deu declarações. Ele afirmou que não pode comentar o caso por causa do sigilo decretado pela Justiça.
Eu falava que doía, e ele [anestesista] falava que eu precisa de um psiquiatra. Jamais esperava um tratamento desse. Eu não posso ver ele na minha frente. Eu tenho medo."
Paciente operada no Hospital José Venâncio
Cobrança por cirurgia do SUS
As denúncias são investigadas há seis meses pela Polícia Civil em Colina. Uma das pacientes, que prefere não ser identificada, afirma que o urologista cobrou R$ 1,3 mil pela cirurgia em um dos rins, enquanto o anestesista pediu mais 40% do valor. Como não sabia do acerto, a mulher diz que foi questionada sobre o pagamento quando já estava na sala de cirurgia.
“Ele falou que era pra eu ser sincera, se eu estava pagando ou não pela cirurgia. Eu falei pra ele que eu não sabia, que era meu filho que tinha combinado tudo. Ele falou pra enfermeira que ele não trabalhava de graça nem pra mãe dele”, afirma.
Segundo a mulher, o urologista deu início ao procedimento, mas ela reclamou que não estava anestesiada. “O médico que estava fazendo a cirurgia perguntou se ele não tinha aplicado toda a anestesia? Ele falou que tinha aplicado. Eu falei ‘não, o senhor não aplicou. Eu vi quando o senhor jogou aqui no chão’. Eu vi ele descartar, eu vi”, diz.
De acordo com a paciente, mesmo após as queixas de que estava sentindo as dores da operação, o médico continuou a cirurgia. Ela afirma que o cirurgião só parou e a anestesia só foi refeita, quando ele afirmou que havia perfurado o rim. “Foi aí que eles fizeram eu dormir e me entubaram. Aí eu não vi mais nada.”
Enquanto esteve lúcida na mesa de cirurgia, a paciente afirma que sentiu dores aterrorizantes. “O remédio que ele punha no soro, ele punha um pouco e o resto ele punha do lado. Jogava fora. Só Deus sabe o que eu senti, só Deus sabe o que eu passei.”
Após a cirurgia, as dores levaram a paciente a passar por atendimento médico outras cinco vezes. Ela levou o caso à polícia e outras nove pessoas registraram queixa alegando pagamentos feitos aos dois médicos por cirurgias feitas pelo SUS. Segundo a polícia, os suspeitos recebiam duas vezes pelos procedimentos realizados.
Trauma e sofrimento
De acordo com o delegado Fernando Cesar Galletti, dois inquéritos foram instaurados para apurar o caso. A denúncia também chegou ao Ministério Público, que pediu o afastamento dos médicos de suas funções do hospital. Eles foram proibidos pela Justiça de frequentar a instituição. Se condenados pelo crime de corrupção passiva, cada um deles pode pegar até 12 anos de prisão.
Ainda segundo Galletti, o provedor do hospital também é investigado porque uma das vítimas informou que ele sabia do esquema dos médicos, mas não tomou nenhuma providência. O funcionário foi procurado, mas alegou que não pode comentar o caso por causa do sigilo decretado pela Justiça.
Comentários
Postar um comentário
O blog não se responsabiliza pelos comentários de terceiros.